sexta-feira, março 30, 2007

bright and shiny

go with the flow...

em ponto

Há uma hora certa para soltar as rédeas às memórias empoeiradas e aos sonhos esburacados. Há uma hora certa para sacudir a chuva da pele e dos dias de sol. Uma hora certa para largar a corda e cair, sem medo.
Há uma hora certa. Sem minutos ou horas, sem meses ou anos. Uma hora certa no tempo que apenas se mede com os ponteiros dos corações.

Fotografia: Inez Van Lamsweerde e Vinoodh Matadin (Calendário Pirelli 2007)

domingo, março 25, 2007

amanhã

Talvez. Amanhã talvez acredite outra vez. Em borboletas a povoar o avesso da pele. Em olhares que aveludam os silêncios encorpados de desejos por saciar. Ou em verdades que se multiplicam com bocas a tocarem os lábios da alma e com braços capazes de alumiar a vontade perdida. Amanhã, talvez acredite. Ou depois. Ou depois. Não sei.
Talvez amanhã as palavras deixem de ser só palavras para ganharem os contornos de um olhar que não traga o peso todo de um coração moído dentro dele. Como este.
Mas só amanhã.

sexta-feira, março 23, 2007

banho-maria

Sempre invejei os meus gatos por simplesmente saberem estar quietos, a amornar e deixar que a languidez das horas sem pressa lhes afague a pele. Sempre que os vejo assim percebo o quanto tenho para aprender com eles, com esta sua maneira de se deixarem ficar, em banho-maria ao sabor de si mesmos, sem medo que o mundo não espere por eles para avançar.
Acho que eles sabem que não tem de esperar porque afinal, depois de se espreguiçarem, o cheiro a terra molhada será sempre o mesmo cheiro a terra molhada e o sol de amanhã trará o mesmo calor do de hoje.

tactear

não me peças perdão, a culpa é minha:
foi este tempo todo descuidado,
foi não achar que o fim um dia vinha
foi ficar sem defesas a teu lado

foi nunca te lembrar em sobressalto
foi não deixar falar a tua boca
foi não pensar em ventos no mar alto
foi tanta coisa, tanta, hoje tão pouca

foi deixar-me viver em falsa paz
foi afagar-te as mãos sem as prender
ou foi prendê-las mal e tanto faz
julgar que se morria de prazer

agora é tarde, sim, tarde de mais,
tropeço às cegas nesta dura lei,
não sei se vale a pena dar sinais
e o que te hei-de dizer também não sei.

Vasco Graça Moura

quarta-feira, março 21, 2007

"por morrer uma andorinha

não acaba a primavera."
Ouvi-o um dia da mesma boca sábia que tanto me tem ensinado: com o coração primeiro e com palavras depois, primavera após primavera. De alguém a quem as rugas acrescentam e somam azuis de céu limpo e aromas a flores de jardim e, acima de tudo, aquilo que só o tempo traz, e subtraem o que a nós nos sobra em demasia: pressa.
Esta é, para mim, uma das verdades mais óbvias mas difícil de mastigar: que a primavera acontece, mesmo com andorinhas que demoram e sem as que acabam por nunca regressar.


Abro a porta do carro e saio em direcção ao mar. Enterro os pés na areia molhada e fria e vou até onde não mais ouvir os ruídos da agitação mundana. Apenas o silêncio, aquele que só existe com fundo a bate-rebate das ondas do mar. Deixo-me ficar. Respiro o sol e o perfume a sal renovado em azul-água. E mais nada faz ali falta. A minha avó estava certa. A primavera chegou, outra vez, à hora marcada.

segunda-feira, março 19, 2007

what if?



O clip é do filme Little Children (Pecados íntimos). Vi-o na semana passada e recomendo, pelo menos a quem goste de ver em grande tela seres tão (im)perfeitos quanto nós, com pequenos e grandes pecados, pequenas e grandes esperanças, pequenas e grandes mentiras e as verdades que nos habitam em locais mais ou menos sombrios do que somos. Sobre as escolhas que fazemos e os "e se(s)?" da vida que, no fim da linha, acabam sempre por nos assombrar. Leve e cru ao mesmo tempo, só para crianças crescidas...

instantes

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos

David Mourão-Ferreira
Este é para ti. Melhor, este é mesmo para tu saberes que é para ti. Pelos instantes sem tempo que se suspendem hoje em memórias claras e luminosas das vezes em que descobrimos o caminho um do outro, até aí e até aqui. Pelas noites sem espaços vazios, de silêncios claros e sorrisos soltos. Pelas vezes em que soubémos beber o que fica, depois dos tragos, "lá no fundo dos copos" do que somos.

sábado, março 17, 2007

"and you can't always get what you want,



You can't always get what you want.
You can't always get what you want.
But if you try sometimes, yeah,
You just might find you get what you need!..."


no seu melhor, os Stones, a escaldar a praia de Copacabana, em 2006.
Há coisas que, apesar do que o tempo engelha, não perdem a essência e o sabor.
E para quê retoques se as verdades se querem assim, a nu e cru?

domingo, março 11, 2007

somewhere over the rainbow


Dispensando introduções: para espreguiçar a memória, deixar derreter um bocadinho o coração, e ficar por lá, para além dos arco-íris que estes dias de primavera antecipada desenham no azul dos dias.
E, claro, sorrir... sem dar por isso.

O amor por entre o verde

"(...) É um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente amado... Esqueço o casalzinho no parque para perder-me por um momento na observação triste, mas fria, desse estranho baile de desencontros, em que frequentemente aquela que devia ser daquele acaba por bailar com outro porque o esperado nunca chega; e este, no entanto, passou por ela sem que ela o soubesse, suas mãos sem querer se tocaram, eles olharam-se nos olhos por um instante e não se reconheceram.
E é então que esqueço tudo e vou olhar nos olhos da minha bem-amada como se nunca a tivesse visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rasto de luz quando ela passa; e quando ela me abre os braços eu me crucifixo neles banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer que lhe causasse dano; e gostaria que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos mirando muito além das estrelas."

Vinicius de Moraes
e no sentir que o define na essência, quando real e vibrante dentro dos corpos de que se apodera e toma sem pedir licença. Vinicius aqui o expressa, eu reescrevo e sublinho.
É preciso coragem para amar, assim, de verdade. E, às vezes, um empurrão do destino também.
Fotografia: GettyImages

sábado, março 10, 2007

"you tell me that you love me...



Swans, Unkle Bob
... but you never wanna see me again."
das (im)perfeições de cisnes e dos corações humanos também.
Linda esta música, para escutar de portas escancaradas para as verdades líquidas dos dias.

terça-feira, março 06, 2007

sssssshhhhhh.....

... em preparação para sonhar

segunda-feira, março 05, 2007

sparkles


Por vezes, é nas entrelinhas de um sorriso macio e de um olhar que nos segura as mãos desajeitadas que encontramos o abraço que nos devemos e então descobrimos porto para as lágrimas por ancorar e amparo para as partidas que a vida ou o coração nos vão pregando. Por vezes, há momentos em que conseguimos finalmente pegar-nos nos braços e com eles nos envolvermos, aconchegarmos e massajarmos o coração amassado. Há momentos em que aprendemos a nos perdoar o que não podíamos saber, ser ou sentir de outra forma, em que encarnamos a absolvição das culpas sem dono que julgávamos jamais poder expiar e verdadeiramente aceitamos a claridade e as sombras da matéria de que somos feitos.
É então que, de quando em quando, vez após vez, nos vamos salvando, de nós mesmos e da desesperança, sobretudo.

How to save a life, The Fray

Step one you say we need to talk
He walks you say sit down it's just a talk
He smiles politely back at you
You stare politely right on through
Some sort of window to your right
As he goes left and you stay right
Between the lines of fear and blame
And you begin to wonder why you came

Where did I go wrong, I lost a friend
Somewhere along in the bitterness
And I would have stayed up with you all night
Had I known how to save a life

Let him know that you know best
Cause after all you do know best
Try to slip past his defense
Without granting innocence
Lay down a list of what is wrong
The things you've told him all along
And pray to God he hears you

(...)

As he begins to raise his voice
You lower yours and grant him one last choice
Drive until you lose the road
Or break with the ones you've followed
He will do one of two things
He will admit to everything
Or he'll say he's just not the same
And you'll begin to wonder why you came

Where did I go wrong, I lost a friend
Somewhere along in the bitterness
And I would have stayed up with you all night
Had I known how to save a life


sábado, março 03, 2007

detached

Cansada de correr e depois ficar sem ar, sem nunca parar, e então correr de novo, com passadas irregulares, depressa, lentamente, depressa outra vez. Cansada. Sem nunca chegar. A perder o tino ao destino. Sem saber como travar, abrandar, imobilizar as pernas de dentro. A temer a solidez fria e certa do chão. A quietude das verdades de dentro. Desligada.