segunda-feira, abril 30, 2007

em branco

Deito fora as imagens,
Sem ti para que me servem
as imagens?

Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em toda a parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.

Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta, a
o trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.

Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.

Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.

Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.

Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.

E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.

Raul de Carvalho
Fotografia: Alan Cresto

sexta-feira, abril 27, 2007

on and on the rain will fall...

Fragile, Sting
Porque o somos: assim, quebráveis sem estilhaçar.

estuário

Este céu passará e então
teu riso descerá dos montes pelos rios
até desaguar no nosso coração
Ruy Belo

quinta-feira, abril 26, 2007

peso-pluma


Quando os minutos são horas, e quando as horas se reciclam em cercos de esperas enubladas... Quando se nos atam as mãos pela falta que não fazem e a inércia é tudo o que nos pode tomar... Resta ficar, quieto, de respiração sustida e mãos trémulas, à espera da voz que traga as palavras que desatem o coração apertado.
Detesto a impotência desta angústia pesada e espaçosa. Bem-vinda a leveza que começa agora massajar-me a tensão do corpo, e da alma também.

terça-feira, abril 24, 2007

fábulas

"Deeper meaning resides in the fairy tales told me in my childhood, than the truth that is taught by life."
Schiller
Lembrava-me alguém que sempre soube guardar em si a criança da qual se fez mulher e que, desde o tempo em que jogávamos à macaca e ao faz de conta, continua a saber brincar com esta que aqui mora, por vezes meio esquecida.
Ainda hoje, qual Alice no país das maravilhas, descobrimos com os mesmos olhos arregalados a surpresa, o medo, as gargalhadas, a magia e as lágrimas, nas histórias que nos contamos de fadas e dragões.
Fotografia: Kellie Walsh

degelo

Quanto tempo leva um beijo a derreter dentro de um sonho?

Fotografia: Ryan McVay

domingo, abril 22, 2007

waiting


Betterman, Pearl Jam
Waitin', watchin' the clock, it's four o'clock, it's got to stop
Tell him, take no more, she practices her speech
As he opens the door, she rolls over...
Pretends to sleep as he looks her over
She lies and says she's in love with him, can't find a better man...
She dreams in color, she dreams in red, can't find a better man...
Can't find a better man...


Lá estarei, em Junho, a chorar com a voz estas palavras. E a sorrir, também.

frosting

Alguém é servido?

Fotografia: Shinichi Maruyama

histórias

My Bloody Valentine
por Suzanne Woolcott
... de luz e sombra, de fogo e água.

sexta-feira, abril 20, 2007

dos sonhos


e das coincidências com que os dias abalam os silêncios mais cépticos e os corações desprevenidos.
Há dias assim. Em que a telhas de vidro da casa onde cautelosamente nos recolhemos parecem frágeis demais para não estilhaçarem à passagem de furacões fora de época ou não derreterem, escaldadas por ondas de calor solitário e inesperado.

Fotografia: Inez Van Lamsweerde e Vinoodh Matadin (Calendário Pirelli 2007)

quinta-feira, abril 19, 2007

rétorica

Quantas palavras cabem dentro de um olhar?
E arrepios, quantos incendeia um como esse?

segunda-feira, abril 16, 2007

(un)locked

Waiting for my prince, Suzanne Woolcott
Esperar. Sem a pressa ou angústia de quem aguarda algo que está para chegar. Esperar. Como quem adormece sem ansiar o sonho que por certo virá, sem antes o saber ou depois o lembrar. Esperar, apenas. Destrancar o coração.

A maravilhosa ilustração é de Suzanne Woolcott, uma artista escocesa a descobrir. Mais por aqui, brevemente.

domingo, abril 15, 2007

insustentável...

"O fardo mais pesado esmaga-nos, verga-nos, comprime-nos contra o solo. Mas, na poesia amorosa de todos os séculos, a mulher sempre desejou receber o fardo do corpo masculino. Portanto, o fardo mais pesado é também, ao mesmo tempo, a imagem do momento mais intenso de realização de uma vida. Quanto mais pesado for o fardo, mais próxima da terra se encontra a nossa vida e mais real e verdadeira é.
Em contrapartida, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, fá-lo voar, afastar-se da terra…torna-o semi-real e os seus movimentos tão livres quanto insignificantes.
Que escolher, então? O peso ou a leveza?"


Milan Kundera

no escaping

Placebo, Special K

errudilados

E o que fica por dentro, entranhado no avesso dos lençois e da pele, também se revisita?
E quantos quero-te cabem dentro dessa gota de suor que te foge da face?
E esse fulgor que te escorrega dos olhos, achas que posso guardá-lo dentro do meu umbigo?
E para que canto da cama atiro as palavras a mais que já não servem para vestir o desejo por alisar?
Fotografia: Inez Van Lamsweerde e Vinoodh Matadin (Calendário Pirelli 2007)

domingo, abril 08, 2007

muitos...

de chocolate.

sábado, abril 07, 2007

let the games begin

- E para que servem as regras?
- Para as quebrarmos.
- Mas então servem para quê?
- Para fazermos batota com a vida... (suspiro) e nos reinventarmos talvez.
- É verdade... É nas entrelinhas do que planeamos que a vida acontece. E agora, será que posso beijar-te esse recanto atrás da orelha outra vez?

As coisas mais importantes na vida são as inesperadas. As que acontecem sem possibilidade de ensaio ou repetição.

domingo, abril 01, 2007

voláteis verdades

Dizem que uma mentira repetida muitas vezes se pode transformar numa verdade.
Deve ser isso que acontece com as que nos contamos, de vez em quando, para suavizar o peso das verdades ásperas ou incómodas que não queremos a ocupar-nos os dias.
Por quanto tempo?