quinta-feira, maio 31, 2007

casulos

Estou cansada desta redoma que me sustém virada para o que me faz sombra e me impede de ver para lá do que me constrange. Estou farta desta casca inútil que me abriga de mim em mim. Hoje estou assim, com vontade de estalar.

terça-feira, maio 29, 2007

de agora em diante...



Where we gonna go from here, Mat Kearney

segunda-feira, maio 28, 2007

despertares

Revigorar os arrepios à flor da pele. Roubar a terra do chão. Estremecer o desejo com a ponta dos dedos. Deixar voar as borboletas do lado de dentro dos olhares rasgados.
Acordar.

quinta-feira, maio 24, 2007

procura-se II

morada de areia sem dono onde se possa abandonar o corpo, com perfume de mar, sabor de céu azul e silêncio que ocupe o coração. Prefere-se com vista para a serenidade de dentro a pedir o esquecimento da sofreguidão dos dias.

domingo, maio 20, 2007

por estrear

Descalçar as (des)ilusões, rotas de tanto as rafar. Massajar os calos da borda da alma. Hidratar a vontade ressequida. Desentorpecer a dança do corpo e do olhar.
Sapatos novos, vermelhos de preferência, uma tentação.

sábado, maio 19, 2007

de costas voltadas


Voltar as costas às desculpas, às pedras nas palavras e aos cacos de outras noites em que ainda tropeçamos no caminho. Voltar as costas ao que não basta, ao que está a menos, ao que sobra.
Voltar as costas às esperas traídas e aos dias antes de tudo.
Piscar-te o olho em nome das ironias de histórias de amor mal rematadas, voltar-te as costas e sorrir, de frente para a vida que me espreita.

quinta-feira, maio 17, 2007

liberta

e já era tempo.

terça-feira, maio 15, 2007

acendalhas

Desistir. Guardar as cinzas. Correr. Avançar. Cair. Recuar. Ter medo. Dar passos pequenos. Lume brando. Andar em frente novamente. Correr. Parar. Ter medo. Desistir outra vez. Avançar. Não olhar para trás. Em frente. Ter medo. Esbarrar no acaso a apanhar os corações ingénuos desprevenidos. Faíscas. Paralizar. Fugir. Paralizar outra vez. Procurar lugar para esconder. Corpo a aquecer. Ter medo. Não poder fugir. Corpo a escaldar. Não querer. Querer. Acordar dragões adormecidos. Corpos a arder. Ter de apagar o fogo ou deixá-lo arder. Abandonar os fantasmas. Ter se saber. Em frente.
Desistir de correr. Deixar arder.

sábado, maio 12, 2007

não digas a ninguém


fingir que está tudo bem: o corpo
rasgado e vestido com roupa
passada a ferro, rastos de chamas
dentro do corpo, gritos desesperados
sob as conversas: fingir que está
tudo bem: olhas-me e só tu sabes:
na rua onde os nossos olhares se
encontram é noite: as pessoas não
imaginam: são tão ridículas as
pessoas, tão desprezíveis: as pessoas
falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo
bem: o sangue a ferver sob a pele
igual aos dias antes de tudo,
tempestades de medo nos lábios a
sorrir: será que vou morrer?,
pergunto dentro de mim: será que
vou morrer?, olhas-me e só tu
sabes: ferros em brasa, fogo,
silêncio e chuva que não se pode
dizer: amor e morte: fingir que está
tudo bem: ter de sorrir: um oceano
que nos queima, um incêndio que
nos afoga.
José Luis Peixoto

ganhar asas

... e voar. Até lá. Até aquele pedaço de céu por esburacar onde possamos pousar a saudade e os corpos cansados de fugir. Ficar. Sem o fardo do medo e da incerteza a pesar no coração. Libertos das amarras que nos constragem a vontade imutável de nos termos.
Até lá... Ganhar asas e voar.

domingo, maio 06, 2007

sempre...

Aos abraços e às gargalhadas. À leveza do permanecer. Aos brindes. Às pequenas loucuras.
À saudade...
É bom sentir que há coisas que nunca mudam.

quinta-feira, maio 03, 2007

sem ponto de interrogação

... mas com limite de páginas por escrever.

quarta-feira, maio 02, 2007

de chuva II

Este inverno obstinado já não era para andar por aqui. A molhar a vontade nascente e a roubar a luz aos poentes dos dias, agora mais pacientes e mornos. Já faz falta a pele a querer suar e noites que lambam o sal da boca e do peito fustigados. Já faz falta o calor a incendiar a linguagem dos corpos inquietos, e um perfume que dance com o silêncio dos olhares trocados.
Alguém que varra estas nuvens pesadas, por favor.

terça-feira, maio 01, 2007

metade


Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio...

Para ouvir com o as duas metades do coração, por inteiro, apuradas. E chorar, se for preciso.

iminente

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

Eugénio de Andrade