quarta-feira, março 21, 2007

"por morrer uma andorinha

não acaba a primavera."
Ouvi-o um dia da mesma boca sábia que tanto me tem ensinado: com o coração primeiro e com palavras depois, primavera após primavera. De alguém a quem as rugas acrescentam e somam azuis de céu limpo e aromas a flores de jardim e, acima de tudo, aquilo que só o tempo traz, e subtraem o que a nós nos sobra em demasia: pressa.
Esta é, para mim, uma das verdades mais óbvias mas difícil de mastigar: que a primavera acontece, mesmo com andorinhas que demoram e sem as que acabam por nunca regressar.


Abro a porta do carro e saio em direcção ao mar. Enterro os pés na areia molhada e fria e vou até onde não mais ouvir os ruídos da agitação mundana. Apenas o silêncio, aquele que só existe com fundo a bate-rebate das ondas do mar. Deixo-me ficar. Respiro o sol e o perfume a sal renovado em azul-água. E mais nada faz ali falta. A minha avó estava certa. A primavera chegou, outra vez, à hora marcada.