domingo, março 11, 2007

O amor por entre o verde

"(...) É um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente amado... Esqueço o casalzinho no parque para perder-me por um momento na observação triste, mas fria, desse estranho baile de desencontros, em que frequentemente aquela que devia ser daquele acaba por bailar com outro porque o esperado nunca chega; e este, no entanto, passou por ela sem que ela o soubesse, suas mãos sem querer se tocaram, eles olharam-se nos olhos por um instante e não se reconheceram.
E é então que esqueço tudo e vou olhar nos olhos da minha bem-amada como se nunca a tivesse visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rasto de luz quando ela passa; e quando ela me abre os braços eu me crucifixo neles banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer que lhe causasse dano; e gostaria que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos mirando muito além das estrelas."

Vinicius de Moraes
e no sentir que o define na essência, quando real e vibrante dentro dos corpos de que se apodera e toma sem pedir licença. Vinicius aqui o expressa, eu reescrevo e sublinho.
É preciso coragem para amar, assim, de verdade. E, às vezes, um empurrão do destino também.
Fotografia: GettyImages