quinta-feira, setembro 07, 2006

foco de incêndio

"Mais vale aquela pequena imperfeição onde o desejo se acende e arde e leva consigo o tempo em frente. Amanhã o abismo, mas só amanhã. Como recusar o que vem assim sem se saber porquê? Como cansar o que prefere morrer a sossegar?"
Pedro Paixão
É assim com a paixão que, em verbo, se conjuga quase sempre no passado.
Foi assim, não foi? Que deixámos arder até queimar, até doer.
Foi assim que preferimos apagar o amanhã até que chegassem o fumo e as cinzas do depois.
Não são poucas as vezes que viramos a cara aos extinguires eminentes diante dos nossos sentidos. No fim, podemos chamar-lhes imprevisiveis mas estiveram sempre lá. Escancarados.
É a arrogância do ignorar que nos deixa arder com as chamas do que se semeia cá dentro, sem saber como nem porquê. Ainda bem. O morno não aquece nunca o coração.
Fotografia: Peter Lindbergh