segunda-feira, dezembro 04, 2006

sopros

Podes vir. Soprares-me as lágrimas que não sei esgotar com os gestos do que ainda te restar de mim nesse peito.
Há dias em que me descubro assim. Despida. Sem ti. Sem mim. Sem encontrar resgate nas margens de dias cheios de pequenos nadas. Há dias assim. Mais frios, mais acutilantes, mais enublados, mais águados do que me sobra.
Talvez a ti não te reste já nada e o que um dia me sopraste ao coração se tenha sustido, a custo de tanto de se calar ou se adormecer.
Talvez um dia também eu me esqueça, quando já não souber como me lembrar ou nada me sobrar.

Fotografia: Christian Coigny