quarta-feira, novembro 01, 2006

horto de incêncio

Agitaram-se as águas que dormiam mudas nesta terra dos sonhos moribundos e todas as lágrimas por existir e por nascer se incendiaram. Escorreu o que ficou por enterrar e todos os amanhãs que ainda não soube velar.
Não pensei que lacerasse. Não pensei que cegasse e apunhalasse. Que sangrasse.
Porque esta dor se faz de todas as mortes por chorar, de toda a esperança por enlutar, de todos os adeus que se encobriram e adiaram.
Jamais saberás o que por aqui ardeu e como queimou. Mesmo eu preciso de me esquecer deste horto de incêndio que me consumiu a alma na eternidade daqueles instantes para então soprar as cinzas de ti para longe, bem longe deste cemitério de palavras, abraços e pecados.

Fotografia: Eryk Fitkau